segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Apenas uma História...

Acordo em sobressalto como já vem sendo hábito… voltei a sonhar contigo! Desta vez não me controlo e sem qualquer rasgo de bom senso digito o teu número – que sei de cor - no meu telemóvel! O que é que me deu para fazer isto? Pelo meio ainda penso em desligar, mas não vai servir de nada porque o número ficará registado, lembro-me entretanto. Não atendeste e eu sinto-me perdido mas aliviado. Não sei bem o que te quero dizer, na verdade. Devolves de imediato a chamada. E agora? Vou fingir que não ouvi e não atendo… não!… atendo, sim. Preciso de te ouvir! A tua voz do outro lado e de imediato a imagem da tua pele morena, do teu olhar, dos teus lábios únicos ( “num beijo que eu jamais provei igual”) das tuas mãos finas e delicadas como tu, dos teus braços, do teu jeito tranquilo, seguro e ao mesmo tempo doce.

“Só para te ouvir”, esboço em voz trémula, insegura e desenquadrada, ainda perturbada pelo sono conturbado da noite anterior. E pouco mais digo. Se há quem defenda que, à beira da morte, a vida nos passa em imagem num flash, acredito que naquele momento estive à beira da morte, morri e que morrendo renasci e voltei a acordar talvez um tempo atrás. Estupidez, confusão e as imagens que escorreram a velocidade vertiginosa de tantos momentos que passámos juntos…

Apelo a essas imagens, convido-te para um café que pronta e justamente recusas. Como tive coragem de fazer isto? – Volto a pensar… Completamente desregulado, insisto e a tua classe, a tua bondade, o teu bom íntimo não te permitem recusar uma segunda vez! Se eu estivesse no teu lugar, acho que não me queria ver á frente nos próximos 100 anos – Medito, desiludido comigo, com meia dúzia de pessoas e com um ou outro trilho que escolhi. Sei que sou boa pessoa, apesar de tudo…

Chegas pouco depois da hora marcada, no mesmo sítio. Sinto que estive sempre contigo. Olho-te num misto de saudade, de alegria, de desejo, e de desespero. Continuas com um charme invejável, Linda como sempre, “ Mais Magra” dizes me tu! Como duas pessoas que se amaram desmedidamente (não sei se algum dia deixei de te amar ou sequer se deixarei), conversamos de tudo e essencialmente de nós, do que aconteceu, do que fiz e não fiz, das tuas férias em que não estive… Puxas me as orelhas bem ao teu jeito. Elogias-me ao mesmo tempo que pedes que me cuide. “ De que serve isso”? Pergunto-te. “ Uma vida inteira a dar-me aos outros e para quê?” Isso pouco importa, na verdade… e tu… tu “ Estás Linda” . “A beleza está no carácter e isso revela-se exteriormente” – Respondes fria e asperamente de imediato!

Manténs te fisicamente distante. Aos poucos consigo arrancar-te um abraço, uma festinha… “ Sei que sentes a falta das minhas festinhas” - dizes-me - “ Claro que sinto”. Choramos os dois - “ Foi uma pena” – “ Sim foi uma pena”. “Sei que certamente ficaremos separados um do outro para o resto da vida, mas foste tu, és tu”… “Com tantas atrás de ti, sinto-me especial por estares aqui comigo”- dizes-me em tom irónico. “Quando se passa algum tempo com uma mulher a sério, dificilmente se consegue estar com qualquer outra pessoa”…“ Fazes me Falta”...Fazes me falta”

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Aos Cromos deste Verão: R.B.& J.B.

Ar descontraído mas cuidado, uma grande pinta, sorriso rasgado de orelha a orelha, olhos esbugalhados, copo na mão, palavras trémulas, andar cambaleado pela constante bebedeira, dançar esquisito e uma alegria pura e imensa que contagia tudo à volta…. “Hiiiiiiiiiiiiiii Zé, como tu estás hoje!”

Hoje, que ainda estou sóbrio, consegui fitar-vos durante alguns momentos. 14 Anos de noite aqui e acolá ensinaram-me a reconhecer gestos, comportamentos, atitudes. Distingo sem dificuldade os olhares de engate, as aproximações de paixão, o toque da provocação, o brinde da cumplicidade, o copo da solidão, a dança do puro divertimento.

Hoje foi diferente. Para quem tem o privilégio de partilhar convosco um trago de madrugada, sabe que a noite é sempre incerta, que o divertimento é garantido, que amanhã há frases para mais tarde recordar, que os conhecimentos femininos surgem inevitavelmente e que a chegada a casa pode não ser hoje nem amanhã, mas neste verão, amigos, ultrapassaram tudo o que se esperava de vós.

Se me perguntarem o que guardo deste verão, responderei, sem dúvida, esta noite, igual a todas as outras deste verão, em que dois larápios de boa disposição espalharam olhares mágicos, sorrisos contagiantes, e palavras bem-dispostas pelos bares de Santa Cruz. Estilos diferentes, idades e vivências díspares, denominam comummente a única certeza de agarrar mais uma noite como “se não houvesse amanhã” e de, em último caso, “dormir no T0 da praia”. Despreocupados com qualquer realidade paralela, com qualquer solidão ou provocação, aquele é o vosso mundo (tão genuíno).

E lá estão vocês de ar descontraído mas cuidado, uma grande pinta, sorriso rasgado de orelha a orelha, olhos esbugalhados, copo na mão, palavras trémulas, andar cambaleado pela constante bebedeira, dançar esquisito, e uma alegria pura e imensa que contagia tudo à volta…. “Hiiiiiiiiiiiiiii Zé, como tu estás hoje!”

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Na estrada

A neura envolve-me e consome a boa disposição dos dias anteriores. Desconfio da causa. Visto os calções almofadados e a t-shirt azul. Calço os ténis. Agarro na bicicleta cinzenta – fiel companheira - tomo de um trago uma mini preta e faço-me à estrada. (A estrada é sempre boa companhia).

Abraçam-me sentimentos estranhos de fraqueza, raiva e vontade de chorar. Como sempre, cerro os dentes enquanto no instante penso em ti… fixo os olhos no alcatrão irregular e pedalo mais forte como quem contra o relógio e contra a vida busca chegar mais longe, mais rápido, mais alto.

Pedalam as pernas ao compasso do rolar das imagens de momentos recem fabricados, dos “ sorrisos” e “ piscadelas”. Duvido se os quero, se os quero afastar e assumo a dúvida como o primeiro prémio de montanha do dia…salta a mudança para um carreto mais pesado que hoje é para sofrer. Pedalam mais duro as pernas (des)comandadas pelo desconcerto das incertezas. Do topo - tal como das certezas - nem sinal.

Paira o cheiro do alcatrão quente, empina mais, cresce o sacrifício … rabo fora do selim, respiração ofegante, a bicicleta a gingar ora a um lado ora a outro e o som empenado dos pneus cardados impróprios para a estrada.

Saboreio gotas de suor amargo que escorrem cara abaixo. Vinca-se uma dor aguda no peito que entrava a respiração, deturpa a sanidade e a destreza. Esqueço-a, como sempre. Fito o próximo poste e a próxima árvore… quero lá chegar, vou lá chegar. Dor? Dor é a essência do caminho. Pela dor destina-se o prazer. Acredito que sou forte a sofrer. Na subida, na vida, todos os dias, sempre de coração aos pulos. É desta que ele para ou sai para fora, penso, enquanto rasgo mais uma pedalada veemente. Misturam-se as lágrimas com o suor, o esforço do alcatrão inclinado e a dureza da vida…

Eis o topo. Abranda a inclinação e retempero as forças. Bate o vento e seca a cara lavada em suor ou lágrimas pela dureza da serra, talvez da vida. Pelo caminho desgastaram-se as dúvidas e a raiva, gastaram-se as lágrimas e o suor amargo. Exausto mas limpo volto à esplanada que me acolhe todos os dias de sorriso dúbio.