domingo, 18 de outubro de 2009

com tudo à flor da pele

Domingo à tarde é muitas vezes agreste. Foi uma tarde nostálgica, taciturna, angustiante. Como em tantas outras agarro a almofada como a vida e no abraço a ti - que não estás - aconchego o peito que aos poucos acaba por acalmar o coração que teima em pular descontrolado.

Acabo por ligar o computador na esperança de dois dedos de conversa virtual, que surpreendentemente acabam por acontecer com quem menos se espera.

Mais surpreendente (ou até não) revelam-se as palavras de um amigo deixadas em post, no facebook,. a comentar fotos da noite Inevitavelmente acabo por deixar cair meia dúzia de lágrimas que aliviam o espírito carregado dos pensamentos da tarde e desembocam em palavras que partilho agora.

Este é sem dúvida ano de emoções fortes, de mudanças, de sentimentos à flor da pele… essencialmente é ano de verdade. Desleixei-me e habituei-me a não deformar a realidade. Sem rodeios, sem charme nem habilidade, mas com o coração escancarado, habituei-me a dizer o que sinto e como sinto. Habituei-me dessa forma a conhecer os falsos e a saber distingui-los dos “puros”. Habituei-me a querer transformar todos em “puros” e chorei quando percebi que não era capaz de o fazer. Habituei-me a dizer “ Amo-te” e frustrei-me quando tu não quiseste dizê-lo. Habituei-me a precisar de um aconchego sempre que chego a casa e habituei-me a não tê-lo. Habituei-me a fugir de mim, todos os dias. Habituei-me à magia do alcatrão em cada passeio de bicicleta. Habituei-me a agarrar cada segundo e a vivê-lo, com a maior intensidade. E assim, nesse hábito, habituei-me a partilhar a minha vida com meia dúzia de pessoas boas e uma camioneta de gente que não presta. Habituei-me à ideia de q a maturidade e a amizade são intemporais e não dependem de diferenças de idade. E nesse hábito, conheci gente boa.
“ Lembra-te sempre que os teus amigos não são só aqueles que vão contigo para os copos” - dizia-me um “ puro” de 50 anos há dias.

E não são amigo Vítor, com quem tantos “ copos” partilhei.

É por isso, que noite após noite o que vai ficando é sempre mais do que os copos. Do que os olhos inchados e a voz rouca. É por isso que o que fica são sempre as emoções partilhadas de quem despojado livremente de qualquer cagança quer apenas desfrutar um bom bocado. E haverá algo mais genuíno que emoções partilhadas? É por isso que é sempre bom, noite após noite, recordar o Maria, Maria, o Selfish Love, o “ “When Love takes over”. É por isso que perduram as conversas no carro. É por isso que nos juntamos em prol de causas. É por isso que partilhamos alegrias e dores.

È por isso que “quando a minha terra precisar de mim, eu voltarei” É por isso que grito alto “Põe o Baixinho a meio campo ó filho da p***”. É por isso que estarei (emos) á borda da estrada com cachecóis do Sporting ou qualquer outro (porque isso não importa) a gritar “ Força Joel Lucas Dois Portos está contigo”. É por isso q tenho de terminar este texto para ir ao café que o Joel está lá à minha espera.

É por isso que, com tudo à flor da pele, te digo com as tuas próprias palavras, que sexta feira, amigo, lá estaremos, até q um dia a noite nos possua de vez, e nos laços dos nossos sonhos, voaremos para "aquelas noites" ! (JL)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"Quando escrevo, voo..."

Assisti hoje – enquanto formador oficial – à minha primeira sessão de júri de certificação no âmbito do processo de RVCC ( Novas Oportunidades) e no meio das apresentações acabou de surgir uma fugaz expressão que apressei a registar num pedaço de papel amachucado, emprestado por um colega.

“Quando escrevo, voo” dizia uma candidata quando foi chamada a reflectir sobre o seu portefólio. E de repente sem aparente justificação percorre-me um arrepio espinha abaixo que me encrespa os pelos dos braços e me desperta qualquer analogia ou identificação estúpida. No fundo acho que é isso que procuro em cada linha que deixo aqui nesta “janela” em cada tópico do Messenger e do hi5.

Acredito que a escrever atravesso nuvens em piruetas. Acredito que sonho, ou melhor, que aquele sonho em papel é uma realidade (“Only in their dreams can Man be truly free…”)… uma realidade que eu invento e que é minha e “Só Deus sabe o quanto custa sonhar”.

E lá volto eu aqui outra vez, a voar, a imaginar que alguém irá ler estas frases soltas e talvez identificar-se com a mixórdia de ideias saltitantes, como pipocas, que em devaneio percorrem o meu pensamento e gotejam nos lábios, desembocando nos dedos que teclam como que possuídos por uma vida própria.

Escrevo a realidade que vivo – será real? Ou pelo menos a realidade que sinto quase desumanamente em silêncio, em cada sessão, em cada entrevista, em cada noite de dança, em cada trago de whisky barato, em cada curva que rasgo a gritar ao som dos Michelin, em cada anoitecer com vista para o Tejo iluminado pelo sorriso de “Cheshire”, em cada sorriso que cultivo ou ofereço, em cada abraço e em cada beijo sentido, em cada trilho agreste, em cada subida transpirada tantas vezes em lágrimas, outras tantas em álcool.

Sim, aqui estou eu a piruetar pelos fragmentos de instantes esmifrados em solidão ou em companhia – algumas boas companhias – obrigado aos “ puros” (eles sabem quem são), em angústia, em tranquilidade. Sim, aqui estou eu até que as emoções se esgotem nas palavras sem nexo que continuam a aparecer no pedaço de papel.

E parece que se esgotaram…