quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Um Bom Ano...

Prestes a fazer um ano que abri esta janela, quero deixar aqui uma simples mensagem a todos quantos de uma forma ou de outra a olharam e especialmente aos que entraram!
Aqui retratei o que foi, sem dúvida, um ano intenso, vivido, desmedido, de “coração aos pulos” de descobertas, de revelações, de loucuras, de encontros, de desencontros, de vitórias e conquistas, de percas (Até Sempre amigo Nuno), de muita vida, essencialmente de Família, de AMIZADE.

Ano de “Broken Strings” de “The Story”, de “I Gotta Feeling” de “Halo” de “Selfish Love” de “Maria Maria” de “ When Love Takes Over”. Ano de “Marvil”, e da recém chegada “Trek”.

Talvez continue a abrir a janela para a semana, talvez não. O ano novo traz mudanças e as minhas já começaram. Portanto um FELIZ 2010 a todos e um Obrigado especial para vocês VM, JL, PB, IA, ED, AM, AF, RB, PF, VS, AI) Até à próxima!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A um amigo...

Abro hoje a janela – já tarde - para felicitar publicamente um amigo. Não o faria certamente se ele não fosse um amigo especial. E permito-me falar directamente para ele.

Vi-te crescer, e desde muito cedo que me intrigava ver-te várias vezes manietado por gesso nos pulsos, pelos braços ao peito, pelas pernas queimadas… “ Mais um doido como o meu irmão” pensava eu.

Os anos passam inevitavelmente e olho para ti de forma admirada na primeira vez que te vejo passar de bicicleta na nossa aldeia. A vontade de passar em primeiro lugar na tua terra ocupava-te o pensamento do dia anterior, diziam os “putos” da tua idade. Desconfiei disso – peço desculpa Amigo!

E não é que passaste mesmo em primeiro lugar… Confesso que me comovi, que senti genuína a tua expressão de alegria em resposta aos nossos gritos de incentivo. Nesse dia percebi que eras diferente dos demais.

Com o tempo fomos cruzando algumas saídas, trocando algumas palavras e no último ano a minha admiração por ti foi crescendo à medida que iam crescendo as nossas conversas e as nossas saídas. Nunca te disse Amigo, mas sofri com as tuas derrotas desportivas sempre com a certeza de que carregavas a tua equipa ao colo e que lutavas sozinho numa guerra contra muitos. Senti a tua enorme vontade de passar na tua aldeia de novo em primeiro, mesmo quando as condições eram adversas, e voltei a emocionar-me quando passaste bem destacado dos outros.

Hoje posso dizer que admiro-te pelas tuas capacidades físicas e desportivas mas essencialmente pela pessoa que és. Quando falo contigo esqueço-me que tens 20 anos. Ao longo deste ano foste o ombro amigo que me amparou e o braço que me empurrou nos momentos difíceis e turbulentos. A tua maturidade fascina-me e falar contigo dá sempre um ânimo especial. Obrigado por me ajudares quando mais precisava. Obrigado por me tirares de casa e me tentares mostrar o que é certo e errado. Obrigado sempre que me disseste “ Mas se fizeres isso, deixas de ser o João que eu conheço. É por sermos como somos que somos diferentes dos outros”. Obrigado pela expressão “ coração aos pulos”. A tua determinação, a tua garra, a tua inteligência e a tua humildade são invulgares. A tua entrega é desmedida e agora percebo porque andavas sempre com mazelas. Alguém como tu tem apenas um destino: o Sucesso!

Quando as pseudo-derrotas desportivas se assestaram sobre ti, sem que ninguém percebesse que não eram derrotas verdadeiras, escrevi-te qualquer coisa como “ Os Verdadeiros campeões não se fazem só de vitórias, champagne ou pódio, mas sim de atitude.”

Atitude tu tens, pelo que este ano voltas a ter todos os ingredientes para triunfar. Eu? Eu e Nós continuaremos à beira da estrada, este ano com cachecóis da Aluvia, com gritos de alento, com muita admiração, com toda a nossa amizade e com uma única certeza “ Força Joel Dois Portos está contigo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Em resposta...

Perguntaram me ontem em jeito de brincadeira “ o que é que te aflige João Veríssimo?”
Tal como me habituei a responder sempre a esse tipo de questões, prontamente respondi: “ Nada, nada me aflige!” Acho que estava demasiado cansado e sem força para aceitar que hoje em dia muitas coisas me afligem.

Em jeito de brincadeira – “porque a brincar é que se dizem as coisas mais profundas” – abri hoje esta janela para responder de forma sincera a essa questão…

Aflige-me o furo na minha bicicleta que não me deixa andar enquanto não o reparar;
Aflige-me a calvície, as rugas e o peso dos 30 (quase à porta);
Afligem-me as lesões musculares cada vez mais frequentes;
Aflige-me o estado de saúde da minha avó, cada vez mais débil e que na maioria das vezes já nem se lembra quem sou;
Aflige-me não poder dar o melhor de mim a quem merece (amigos, família, à minha aldeia)
Aflige-me a insónia e a agitação da noite (manhã) anterior que não me deixou descansar;
Aflige-me o medo de correr riscos para ser “estupidamente feliz” (expressão que ouvi a uma amiga e achei excelente)
Aflige-me saber que existe uma fronteira muito ténue entre o Norte e a Paixão;
Aflige-me aceitar que a cada segundo que passa estou mais longe do Norte;
Aflige-me a escrita, que escreveria dias afim se quisesse dar liberdade a tudo o que sinto;
Aflige-me a ideia de que revelo sempre os meus sentimentos e que isso é um perfeito disparate;

domingo, 15 de novembro de 2009

entre um trago de whisky e um gemido de raiva..

Volta o Domingo, volto a abrir esta janela e a deixar que as gotas de chuva ora mais agrestes tocadas pelo sopro do vento cortante, ora mais esvaídas escorregando como manteiga derretida no telhado da casa ao lado, se transformem em palavras soltas deixadas ao abandono como sinónimo da vida de alguém.

Entre um trago de Whisky e um gemido de raiva em jeito de música com letra da Mafalda, dedico a tarde ao sossego intranquilo da minha sala, onde ainda restam os vestígios de outra semana preenchida pela superficialidade agitada de mais do mesmo. As folhas soltas, os cronogramas de horários sobrepostos, os e-mails constantes e repetidos a solicitar o cumprimento de um qualquer prazo, a roupa espalhada na secretária, no calorífico a óleo, na cómoda e no chão. A tela - que afinal na prática não fica tão bem com idealizei na teoria - deixada a secar na mesa da cozinha. O copo de Whisky (fiel companheiro) quase vazio outra vez (afinal também me falhas).

Levianamente, de forma estúpida e inequívoca, habituei-me a saber sempre o que quero, para onde vou e qual o caminho para lá chegar. Abusei da expressão e percorri lama e estrada a subir e a descer, ao sol e à chuva para afinal me perder. Não deve ser grave. Diria Clarice Lispector: “… perder-se também é caminho…”. Com certeza que sim! E ainda bem, senão a esta hora nem sem onde estaria.

A dúvida, a angústia o medo, a incerteza… Fez sentido? Sim fez… ou talvez não! Pelo menos hoje não faz sentido. É Domingo e ao Domingo nada me faz sentido a não ser o passeio matinal de bicicleta ao qual ainda por cima hoje faltei! Dizia uma amiga há dias em post “ Tudo foi necessário para que agora seja Feliz”. Acredito que sim! Acredito, que tudo é caminho para um mesmo destino. Talvez esteja apenas a passar um mau bocado na “prova”. Já estou habituado a passar maus bocados. Principalmente em lama. Talvez descubra um caminho de alcatrão em breve. Sou bem mais forte em estrada. É por isso que vou comprar uma bicicleta de estrada. Talvez torne o percurso mais fácil.

“Talvez pudesse o tempo parar, quando tudo em nós se precipita…”. "põe a tua mão no meu ombro, João…” Obrigado pela ajuda! Preciso disso. Quem não precisa afinal?

Com diria uma amiga “ Não sei bem para onde vou, mas já estou a caminho…”

sábado, 7 de novembro de 2009

amanhecer

Acordo em sobressalto. O despertador desligado, a televisão ainda acesa da madrugada anterior e o conflito incómodo e indeciso das prioridades… o carro para a oficina, o pequeno almoço tranquilo, chegar a horas ao trabalho…

Ouvi de alguém que acordamos sempre a pensar em quem amamos. Salta a tua imagem, o filme do que sonhei. Não me lembro com quem estavas – talvez seja para esquecer – mas vejo-te perfeitamente. O sonho, tão real quanto o recalcamento de te ter visto (ainda há pouco). Quase tão real como o sonho que sonhei e do qual me lembro agora tão bem.

Logo eu que adormeci com a convicção que não iria pensar em ti (muito menos sonhar) e acordo perturbado pela tua presença discreta mas forte na minha vida. “ Acordamos sempre a pensar em quem amamos”. Talvez fosse escusado teres aparecido. Talvez fosse escusado teres ficado. Será certamente escusado estares por cá. Muito menos nos sonhos. Gosto de dormir tranquilo.

O carro! Devia ir pô-lo à oficina… o pequeno-almoço. Devia tomar um bom pequeno-almoço. Tenho de me alimentar, a idade é outra e não sinto o vigor de outros tempos… o trabalho… tenho de chegar a horas!

Frenético, o raciocínio, o ritmo do acordar, as imagens de ti – que não quero ver – o Paulo Bento na SIC Notícias a (tentar) justificar o seu “ bom trabalho” no Sporting, as camisas espalhadas pelo quarto, o aquecedor na casa de banho… Onde está o telemóvel para mandar mensagem ao mecânico? (lá se foi a ideia do carro ir à oficina). Quando terei uma mensagem tua a desejar-me bons dias?

8h50 (Lá se foi o pequeno-almoço tranquilo), “Espera um bocadinho João que te fiz um batido”. “Mãe, entro às 9h00 em Torres não tenho tempo” (Lá se foi a ideia de chegar a horas ao trabalho). O teu sorriso rasgado que contagia o olhar… esse olhar forte e doce, tímido até, de quem quer um aconchego. Serei eu aquele que te aconchegará em tarde fria e chuvosa?

Camisa fora das calças, Camisola pelas costas “ Bom Dia” ao vizinho, voar até Torres. Esvai-se o sonho, as imagens, e uma música em jeito de brincadeira: “O GATO SHÓ MI LÓ”

domingo, 18 de outubro de 2009

com tudo à flor da pele

Domingo à tarde é muitas vezes agreste. Foi uma tarde nostálgica, taciturna, angustiante. Como em tantas outras agarro a almofada como a vida e no abraço a ti - que não estás - aconchego o peito que aos poucos acaba por acalmar o coração que teima em pular descontrolado.

Acabo por ligar o computador na esperança de dois dedos de conversa virtual, que surpreendentemente acabam por acontecer com quem menos se espera.

Mais surpreendente (ou até não) revelam-se as palavras de um amigo deixadas em post, no facebook,. a comentar fotos da noite Inevitavelmente acabo por deixar cair meia dúzia de lágrimas que aliviam o espírito carregado dos pensamentos da tarde e desembocam em palavras que partilho agora.

Este é sem dúvida ano de emoções fortes, de mudanças, de sentimentos à flor da pele… essencialmente é ano de verdade. Desleixei-me e habituei-me a não deformar a realidade. Sem rodeios, sem charme nem habilidade, mas com o coração escancarado, habituei-me a dizer o que sinto e como sinto. Habituei-me dessa forma a conhecer os falsos e a saber distingui-los dos “puros”. Habituei-me a querer transformar todos em “puros” e chorei quando percebi que não era capaz de o fazer. Habituei-me a dizer “ Amo-te” e frustrei-me quando tu não quiseste dizê-lo. Habituei-me a precisar de um aconchego sempre que chego a casa e habituei-me a não tê-lo. Habituei-me a fugir de mim, todos os dias. Habituei-me à magia do alcatrão em cada passeio de bicicleta. Habituei-me a agarrar cada segundo e a vivê-lo, com a maior intensidade. E assim, nesse hábito, habituei-me a partilhar a minha vida com meia dúzia de pessoas boas e uma camioneta de gente que não presta. Habituei-me à ideia de q a maturidade e a amizade são intemporais e não dependem de diferenças de idade. E nesse hábito, conheci gente boa.
“ Lembra-te sempre que os teus amigos não são só aqueles que vão contigo para os copos” - dizia-me um “ puro” de 50 anos há dias.

E não são amigo Vítor, com quem tantos “ copos” partilhei.

É por isso, que noite após noite o que vai ficando é sempre mais do que os copos. Do que os olhos inchados e a voz rouca. É por isso que o que fica são sempre as emoções partilhadas de quem despojado livremente de qualquer cagança quer apenas desfrutar um bom bocado. E haverá algo mais genuíno que emoções partilhadas? É por isso que é sempre bom, noite após noite, recordar o Maria, Maria, o Selfish Love, o “ “When Love takes over”. É por isso que perduram as conversas no carro. É por isso que nos juntamos em prol de causas. É por isso que partilhamos alegrias e dores.

È por isso que “quando a minha terra precisar de mim, eu voltarei” É por isso que grito alto “Põe o Baixinho a meio campo ó filho da p***”. É por isso que estarei (emos) á borda da estrada com cachecóis do Sporting ou qualquer outro (porque isso não importa) a gritar “ Força Joel Lucas Dois Portos está contigo”. É por isso q tenho de terminar este texto para ir ao café que o Joel está lá à minha espera.

É por isso que, com tudo à flor da pele, te digo com as tuas próprias palavras, que sexta feira, amigo, lá estaremos, até q um dia a noite nos possua de vez, e nos laços dos nossos sonhos, voaremos para "aquelas noites" ! (JL)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"Quando escrevo, voo..."

Assisti hoje – enquanto formador oficial – à minha primeira sessão de júri de certificação no âmbito do processo de RVCC ( Novas Oportunidades) e no meio das apresentações acabou de surgir uma fugaz expressão que apressei a registar num pedaço de papel amachucado, emprestado por um colega.

“Quando escrevo, voo” dizia uma candidata quando foi chamada a reflectir sobre o seu portefólio. E de repente sem aparente justificação percorre-me um arrepio espinha abaixo que me encrespa os pelos dos braços e me desperta qualquer analogia ou identificação estúpida. No fundo acho que é isso que procuro em cada linha que deixo aqui nesta “janela” em cada tópico do Messenger e do hi5.

Acredito que a escrever atravesso nuvens em piruetas. Acredito que sonho, ou melhor, que aquele sonho em papel é uma realidade (“Only in their dreams can Man be truly free…”)… uma realidade que eu invento e que é minha e “Só Deus sabe o quanto custa sonhar”.

E lá volto eu aqui outra vez, a voar, a imaginar que alguém irá ler estas frases soltas e talvez identificar-se com a mixórdia de ideias saltitantes, como pipocas, que em devaneio percorrem o meu pensamento e gotejam nos lábios, desembocando nos dedos que teclam como que possuídos por uma vida própria.

Escrevo a realidade que vivo – será real? Ou pelo menos a realidade que sinto quase desumanamente em silêncio, em cada sessão, em cada entrevista, em cada noite de dança, em cada trago de whisky barato, em cada curva que rasgo a gritar ao som dos Michelin, em cada anoitecer com vista para o Tejo iluminado pelo sorriso de “Cheshire”, em cada sorriso que cultivo ou ofereço, em cada abraço e em cada beijo sentido, em cada trilho agreste, em cada subida transpirada tantas vezes em lágrimas, outras tantas em álcool.

Sim, aqui estou eu a piruetar pelos fragmentos de instantes esmifrados em solidão ou em companhia – algumas boas companhias – obrigado aos “ puros” (eles sabem quem são), em angústia, em tranquilidade. Sim, aqui estou eu até que as emoções se esgotem nas palavras sem nexo que continuam a aparecer no pedaço de papel.

E parece que se esgotaram…

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Este Vício, Dois Portos

“ And I ´d give up forever to touch you, because I know that you feel me somehow”… sugestiva esta musica que ecoa do telemóvel em forma de despertador todas as manhãs. Hoje não foi diferente.

A voz rouca, os olhos inchados e o cansaço incrustado no corpo evidenciam uma sequência de noites desmedidamente intensas… talvez de um verão desmedidamente intenso! Estou naquela fase em que só falta mais uma prova – leia-se as festas do Sobral - até abrir o pisca para o lado e encostar à berma para repousar até ao próximo verão.

No entretanto, encharcado de alguma nostalgia, apetece-me escrever meia dúzia de palavras sobre a festa de Dois Portos. Ao fim ao cabo acredito que foi coroada de bastante sucesso. Traçaram-se objectivos bem concretos, muita discussão, muita água engarrafada (se calhar era cerveja), algumas cisões, mas a verdade é que salvo uma ou outra decisão, a esmagadora maioria das opções foram bem sucedidas. Parabéns amigo Branquinho! Escuso-me aqui de pedir desculpa pela minha (des)necessária ausência na preparação do evento. Não poderia ter sido de outra forma até porque as minhas condições anímicas não permitiam que me assumisse como uma mais-valia para o grupo.

Todos os dias aí são mágicos, os momentos eternizam-se, a mística fortalece-se e torna-se a cada dia especial. Não sei quem me disse, mas recordo desta festa as palavras ditas na 1ª pessoa por um ancião da terra“ nunca me lembro de Dois Portos ter um grupo de pessoas tão envolvida e tão unida como agora”.

Acredito que é uma das nossas maiores conquistas. É um espírito único que alguns tentam perceber, muitos queriam experienciar, mas só nós conseguimos viver. ESTE VÍCIO, DOIS PORTOS… Dava um bom slogan de campanha eleitoral. Talvez um dia, quem sabe…

Corre-me na massa do sangue, injectada por outros amantes da Terra (J. A., J.M. ,L.S. , A.F. R., A.C.) com quem tive a oportunidade de há 15 anos atrás partilhar noites únicas, esta droga que me desperta, me vicia e me impede de ficar quieto. Desta feita foram outra vez noites de loucura com alguns excessos a acompanhar. A segunda feira acabou por ter um pequeno cunho de falsidade, mas no coração dos puros estava lá a essência da mística. Cantámos, (Lá fui eu para o palco outra vez. Raios partam o Gajo sempre com o microfone na mão) pulámos, demos abraços eternos e aquele cafuné…

“Quando a minha terra precisar de mim, eu estarei aqui como sempre”, disse há dias a uma amiga querida (das puras). Que assim seja. No entretanto acho que me tenho de afastar por questões de saúde. Pela minha e pela de quem ocupa a superclasse em Dois Portos. Como diria o poeta “ Cumpriu-se o mar e o império se desfez” Faltará cumprir se Dois Portos?

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Apenas uma História...

Acordo em sobressalto como já vem sendo hábito… voltei a sonhar contigo! Desta vez não me controlo e sem qualquer rasgo de bom senso digito o teu número – que sei de cor - no meu telemóvel! O que é que me deu para fazer isto? Pelo meio ainda penso em desligar, mas não vai servir de nada porque o número ficará registado, lembro-me entretanto. Não atendeste e eu sinto-me perdido mas aliviado. Não sei bem o que te quero dizer, na verdade. Devolves de imediato a chamada. E agora? Vou fingir que não ouvi e não atendo… não!… atendo, sim. Preciso de te ouvir! A tua voz do outro lado e de imediato a imagem da tua pele morena, do teu olhar, dos teus lábios únicos ( “num beijo que eu jamais provei igual”) das tuas mãos finas e delicadas como tu, dos teus braços, do teu jeito tranquilo, seguro e ao mesmo tempo doce.

“Só para te ouvir”, esboço em voz trémula, insegura e desenquadrada, ainda perturbada pelo sono conturbado da noite anterior. E pouco mais digo. Se há quem defenda que, à beira da morte, a vida nos passa em imagem num flash, acredito que naquele momento estive à beira da morte, morri e que morrendo renasci e voltei a acordar talvez um tempo atrás. Estupidez, confusão e as imagens que escorreram a velocidade vertiginosa de tantos momentos que passámos juntos…

Apelo a essas imagens, convido-te para um café que pronta e justamente recusas. Como tive coragem de fazer isto? – Volto a pensar… Completamente desregulado, insisto e a tua classe, a tua bondade, o teu bom íntimo não te permitem recusar uma segunda vez! Se eu estivesse no teu lugar, acho que não me queria ver á frente nos próximos 100 anos – Medito, desiludido comigo, com meia dúzia de pessoas e com um ou outro trilho que escolhi. Sei que sou boa pessoa, apesar de tudo…

Chegas pouco depois da hora marcada, no mesmo sítio. Sinto que estive sempre contigo. Olho-te num misto de saudade, de alegria, de desejo, e de desespero. Continuas com um charme invejável, Linda como sempre, “ Mais Magra” dizes me tu! Como duas pessoas que se amaram desmedidamente (não sei se algum dia deixei de te amar ou sequer se deixarei), conversamos de tudo e essencialmente de nós, do que aconteceu, do que fiz e não fiz, das tuas férias em que não estive… Puxas me as orelhas bem ao teu jeito. Elogias-me ao mesmo tempo que pedes que me cuide. “ De que serve isso”? Pergunto-te. “ Uma vida inteira a dar-me aos outros e para quê?” Isso pouco importa, na verdade… e tu… tu “ Estás Linda” . “A beleza está no carácter e isso revela-se exteriormente” – Respondes fria e asperamente de imediato!

Manténs te fisicamente distante. Aos poucos consigo arrancar-te um abraço, uma festinha… “ Sei que sentes a falta das minhas festinhas” - dizes-me - “ Claro que sinto”. Choramos os dois - “ Foi uma pena” – “ Sim foi uma pena”. “Sei que certamente ficaremos separados um do outro para o resto da vida, mas foste tu, és tu”… “Com tantas atrás de ti, sinto-me especial por estares aqui comigo”- dizes-me em tom irónico. “Quando se passa algum tempo com uma mulher a sério, dificilmente se consegue estar com qualquer outra pessoa”…“ Fazes me Falta”...Fazes me falta”

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Aos Cromos deste Verão: R.B.& J.B.

Ar descontraído mas cuidado, uma grande pinta, sorriso rasgado de orelha a orelha, olhos esbugalhados, copo na mão, palavras trémulas, andar cambaleado pela constante bebedeira, dançar esquisito e uma alegria pura e imensa que contagia tudo à volta…. “Hiiiiiiiiiiiiiii Zé, como tu estás hoje!”

Hoje, que ainda estou sóbrio, consegui fitar-vos durante alguns momentos. 14 Anos de noite aqui e acolá ensinaram-me a reconhecer gestos, comportamentos, atitudes. Distingo sem dificuldade os olhares de engate, as aproximações de paixão, o toque da provocação, o brinde da cumplicidade, o copo da solidão, a dança do puro divertimento.

Hoje foi diferente. Para quem tem o privilégio de partilhar convosco um trago de madrugada, sabe que a noite é sempre incerta, que o divertimento é garantido, que amanhã há frases para mais tarde recordar, que os conhecimentos femininos surgem inevitavelmente e que a chegada a casa pode não ser hoje nem amanhã, mas neste verão, amigos, ultrapassaram tudo o que se esperava de vós.

Se me perguntarem o que guardo deste verão, responderei, sem dúvida, esta noite, igual a todas as outras deste verão, em que dois larápios de boa disposição espalharam olhares mágicos, sorrisos contagiantes, e palavras bem-dispostas pelos bares de Santa Cruz. Estilos diferentes, idades e vivências díspares, denominam comummente a única certeza de agarrar mais uma noite como “se não houvesse amanhã” e de, em último caso, “dormir no T0 da praia”. Despreocupados com qualquer realidade paralela, com qualquer solidão ou provocação, aquele é o vosso mundo (tão genuíno).

E lá estão vocês de ar descontraído mas cuidado, uma grande pinta, sorriso rasgado de orelha a orelha, olhos esbugalhados, copo na mão, palavras trémulas, andar cambaleado pela constante bebedeira, dançar esquisito, e uma alegria pura e imensa que contagia tudo à volta…. “Hiiiiiiiiiiiiiii Zé, como tu estás hoje!”

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Na estrada

A neura envolve-me e consome a boa disposição dos dias anteriores. Desconfio da causa. Visto os calções almofadados e a t-shirt azul. Calço os ténis. Agarro na bicicleta cinzenta – fiel companheira - tomo de um trago uma mini preta e faço-me à estrada. (A estrada é sempre boa companhia).

Abraçam-me sentimentos estranhos de fraqueza, raiva e vontade de chorar. Como sempre, cerro os dentes enquanto no instante penso em ti… fixo os olhos no alcatrão irregular e pedalo mais forte como quem contra o relógio e contra a vida busca chegar mais longe, mais rápido, mais alto.

Pedalam as pernas ao compasso do rolar das imagens de momentos recem fabricados, dos “ sorrisos” e “ piscadelas”. Duvido se os quero, se os quero afastar e assumo a dúvida como o primeiro prémio de montanha do dia…salta a mudança para um carreto mais pesado que hoje é para sofrer. Pedalam mais duro as pernas (des)comandadas pelo desconcerto das incertezas. Do topo - tal como das certezas - nem sinal.

Paira o cheiro do alcatrão quente, empina mais, cresce o sacrifício … rabo fora do selim, respiração ofegante, a bicicleta a gingar ora a um lado ora a outro e o som empenado dos pneus cardados impróprios para a estrada.

Saboreio gotas de suor amargo que escorrem cara abaixo. Vinca-se uma dor aguda no peito que entrava a respiração, deturpa a sanidade e a destreza. Esqueço-a, como sempre. Fito o próximo poste e a próxima árvore… quero lá chegar, vou lá chegar. Dor? Dor é a essência do caminho. Pela dor destina-se o prazer. Acredito que sou forte a sofrer. Na subida, na vida, todos os dias, sempre de coração aos pulos. É desta que ele para ou sai para fora, penso, enquanto rasgo mais uma pedalada veemente. Misturam-se as lágrimas com o suor, o esforço do alcatrão inclinado e a dureza da vida…

Eis o topo. Abranda a inclinação e retempero as forças. Bate o vento e seca a cara lavada em suor ou lágrimas pela dureza da serra, talvez da vida. Pelo caminho desgastaram-se as dúvidas e a raiva, gastaram-se as lágrimas e o suor amargo. Exausto mas limpo volto à esplanada que me acolhe todos os dias de sorriso dúbio.

terça-feira, 30 de junho de 2009

O Largo da Junta


A todos que escreveram este texto, aos novos que continuam a escrever um texto semelhante de contornos diferentes e aos que insistem em participar no novo texto…

O verão que agora chega, transporta, ano após ano o perfume e a melodia das sempre famigeradas férias. Pessoalmente é uma época estranha que me faz reviver outros tempos onde me confundia num misto de saudade dos colegas e paixonetas de escola e a alegria de novas descobertas, novas brincadeiras, a praia de S. Martinho do Porto e a Piscina do “Sta. Eulália” em Albufeira.

Eram os dias em que o toque da campainha na parede da escola perdia o seu sentido e às 10h00 da manhã era o Largo da Junta que ecoava os primeiros gritos e gargalhadas que reuniam a maralha. O banco de pedra ligeiramente partido no canto, de baixo de uma árvore meio desgrenhada, que às vezes também servia de baliza e de mesa de cartas, assumia a função de Assembleia onde se traçavam as leis do dia.

Começava a formatura anárquica e desregrada de uns putos barulhentos cuja única missão era aproveitar mais um dia de boa vida. Aos poucos o bando ia chegando, saltando putos de todas as ruas… uns a pé, outros de bicicleta e a mítica BMX amarela do Patusco! Cá por mim, sempre fui pontual e às 10h00 era, a par do meu primo Jotinha, dos primeiros a chegar. Tinha a certeza que éramos todos amigos, se bem que na altura não conhecia bem o significado disso, mas pelo menos sabia que a única traição que podia haver entre nós era quando jogávamos aos cowboys e uns tínhamos que matar os outros.

Os dias divididos escrupulosamente, pela imperturbável hora de almoço, entre manhãs e tardes, corriam fugazes ora de bicicleta, ora no rolar da bola futebol, ora no disparo das armas improvisadas nos cacos de tijolos no jogo dos cowboys, ora na lenga-lenga “51 rebenta o pirum” do jogo das escondidas ou até no “puky e contrapuky” do jogo de cartas.

Sem modéstia, ou tão pouco cinismo, imagino-nos como M&M´s coloridos que passeávamos alegria, magia e vida pelos paralelos irregulares das ruas da aldeia, pelo campo de futebol que nos enchia de pó e pelos trilhos mais longínquos do Felitão, do Casal S. Pedro ou da Folgorosa. Às vezes a bonita “quintinha” do Pedro, ou a casa de Rés do-Chão do Ruben também albergavam uma ou outra tarde de animação.

Paralelamente todos tínhamos programas familiares de férias…. Partiam uns e iam chegando outros. O porto de abrigo lá estava, sempre a ecoar em todas as manhãs, às 10h00 em ponto, através das gargalhadas de quem na intersecção de partir ou chegar lá ia estando.

Passaram 20 anos… Palmilho o Largo da Junta (que para mim nunca será Largo 1º de Maio). Caiem as primeiras gotas das chuvas de verão que nesse tempo nos afastavam do campo de futebol e dos trilhos da bicicleta lançando-nos para a garagem do Pedro, para a casa do Ruben ou, em momentos mais audazes, para a bilheteira à porta do “Grupo”. O cheiro da terra molhada embrulha as gotas da chuva com uma ou outra lágrima derramada pela minha memória enquanto se disparam no pensamento as palavras que agora escrevo.

A campainha deixou de tocar, a Junta de Freguesia mudou de sítio, o banco de pedra foi destruído e a árvore arrancada… Julgo que às 10h00 o Largo já não ecoa gritos e gargalhadas mas, mesmo assim, vão restando os paralelos gastos que continuam a acolher o cheiro da chuva de verão e a servir de chão às velhas amizades que ano após ano teimam em ficar.

Enfim, se não nos virmos antes, Até Domingo, às 9h00 no “Largo do Alex”

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Final de Dia

O final do dia é tarde. Tarde demais para a disponibilidade física, intelectual e emocional. Mas chega finalmente. “ Votos de um bom fim de semana e até segunda… Divirtam-se”. São as palavras que encerram o dia de trabalho e dão o mote para o sossego.

Arrumam-se os dossiers, desligam-se os equipamentos, verificam-se torneiras de água e interruptores de luz. Gosto desta casa… Gosto quando tudo fica no lugar. “O sumário fica para amanhã, porque hoje estou demasiado cansado”, penso enquanto ainda pondero na velha máxima de que “ não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”. Fecho a porta da sala e procuro chaves, carteira, telemóvel… acaba sempre por faltar qualquer coisa que ainda me prende mais uns minutos. Duas ou três mensagens obrigam a resposta imediata. Voltei a esperar mais de uma dessas mensagens…enfim… “ Não amigo, hoje não vou sair… vou só a 2 portos beber uma jola” respondo a uma pergunta em jeito de convite.

Sim, vou até Dois Portos. A minha terra. É curioso… para dizer a verdade nunca residi em Dois Portos, mas sinto me bem lá. Encontro-me, equilibro-me. Invade-me uma estranha sensação de energia sempre que lá estou.

Hoje apetece-me um pouco de emoção.

Depressa faço subir o ponteiro da velocidade e arrisco algumas curvas no limite…. Os pneus gritam ao virar mais agressivo numa das primeiras curvas. Na rádio o “Breathe” (Ure Midge) aguça e pede mais velocidade. Deixo-me envolver…. Pressiono o acelerador com veemência enquanto cerro os dentes de raiva como quem desafia o mundo e a curva seguinte sem qualquer medo. Mais velocidade! O consumo instantâneo dispara aos 30 litros/100kms… pouco importa isso agora… “Breathe some soul in me, Breathe your gift of love to me"… e agora? Tenho de conseguir curvar sem travão na próxima. Entro bem, gemem ainda mais, sem pudor nem respeito, os Michelin enquanto eu vou gritando de dentes cerrados: “Breathe life to lay 'fore meBreathe to make me breathe”…, Saio tão bem quanto entrei o que me permite rapidamente chegar aos 150kms/h na recta seguinte. A próxima curva exige um “cheiro de travão”. O ABS está avariado, e o pedal fica rijo a partir dos 120. Dou-lhe o cheiro - com cuidado - mas continuo acima dos 120km/h. Conheço a estrada como a palma da minha mão, penso eu e descanso a angústia de imaginar não conseguir ficar na estrada durante muito mais tempo. Já estou perto. Reduzo a velocidade que não gosto de “espectáculo” perto de casa.

Entro no largo da minha segunda casa (o café do Alex). A rua cheia de pessoal e um ou outro amigo “dos bons” leva-me a parar. É bom chegar a casa. É bom ver alguns sorrisos. É bom partilhar uma ou outra conversa banal com o pessoal. E rimos, gargalhamos, traçamos projectos e combinamos a saída do próximo fim de semana. Ainda há tempo para um brinde de água-pé “ à nossa, que isto é uma terra pequena mas tem muita malta boa”.





http://www.youtube.com/watch?v=USFr5VeLQ2o

quarta-feira, 20 de maio de 2009

uma mensagem...algumas palavras

Atenua o vazio e a saudade o toque de mensagem no telemóvel. Ansiosamente procuro descobrir se és tu. São centésimos de segundos que separam o “mostrar” da abertura da mensagem e descodificação do remetente. Tremem os dedos e o coração parece acelerar ligeiramente… sim és tu! Os olhos resplandecem de alegria e brilham intensamente deixando transparecer a idealização e imaginação do conteúdo… perguntarás como estou, convidarás me para beber um café - que transporta em si o desejo de me veres, de estares comigo e em ambiente de cumplicidade única, mágica e saborosa, mostrares que queres passar comigo o resto da vida - deixarás meia dúzia de letras, abreviaturas ou símbolos meigos que me aconchegarão como uma manta quente numa tarde fria de domingo junto à lareira, e terminarás com um abraço ou beijinho doce que me apertará os ombros, e de olhos fechados me fará sentir um arrepio de protecção e acolhimento… e no fim quando o telemóvel voltar a bloquear o teclado eu saberei que caibo todo no teu leito e que o meu lugar é como sempre absorvido pelo calor emanado dos teus braços morenos.

Abriu-se a mensagem… o coração retoma a velocidade normal e subitamente volta a bater mais depressa. A recente magia dos centésimos de segundo anteriores, ilustrados em pensamento na idealização da tua mensagem desvanece e cai como uma moeda numa sarjeta arrastada pelas águas incessantes da chuva que parece desabar sobre o momento. Não é possível… é insonsa, é poucochinho para tudo o que se tem lutado, vivido, discutido, pedido… quebra o encantamento, a magia, a beleza dos centésimos de segundo que separam o “mostrar” do ver e remetem para o mais banal e reles que há na ilusão, imaginação e idealização de qualquer instante.

Voltou a bloquear-se o teclado e, ao contrário do previsto, não resta o sentimento de pertença, mas ideia de ausência, de abandono, de solidão, de vazio…

sexta-feira, 15 de maio de 2009

"Cama de Rosas"

“Quero- te deitar numa cama de rosas”… a música que voluntariamente escolho para deliciar o fim de tarde enfadonho…

E sento-me aqui como o Bon Jovi, gasto e desolado pela intensidade com que sempre me obriguei a esmifrar cada dia, pelo erguer dos precipícios em que ousei cair só para descobrir os arrepios na espinha e suores nas mãos, pelo emergir dos mergulhos profundos só para ensopar as vibrações serenas do mar no corpo marcado pela inércia, por trepar mais alto só para aspirar o vento forte que batia no rosto e despenteava os cabelos (noutro tempo bem mais longos e fortes).

Lutas ganhas, lutas perdidas, a alegria, a tristeza, os cheiros, os olhares, sorrisos, choros, gritos, gemidos de dor, raiva, um abraço, pulos, danças, sempre mais… mais forte, mais alto, mais longe, mais rápido, mais álcool, mais tarde, mais louco…

“Há sempre dois lados de uma moeda… não se pode querer sentir se não se correr o risco”, dizia-me há dias uma pessoa especial. Eu senti emoções bem fortes, mágicas e picantes.

Hoje o risco reveste-se de aspecto desgrenhado, de rugas, cabelo enfraquecido, dores nas costas e até na alma. A voz é mais pausada, o raciocínio intelectual e a agilidade física lentificaram-se… Hoje só me quero deitar contigo numa cama de rosas e cheirar a tranquilidade doce do descanso aconchegante dos teus braços. Hoje apenas quero recordar o picante do limite da vida sempre no equilíbrio e desequilíbrio da corda bamba e sorrir com as gargalhadas que se deram.

Baixo os braços resignado às marcas que enfadonham a postura, a atitude, a presença e cegam a jovialidade, a agressividade e a loucura de outro tempo. Sei de cor decretos-lei e referenciais. Conheço núcleos geradores, domínios de referência e critérios de evidência… Haverá algo mais triste e escuro?

Chego, assim, a casa e abraço-te porque te Amo. Sinto o aroma de uma canção que embala, degusto um beijo terno e enrosco-me nos sonhos que até são reais.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Demasiado Cedo

Um companheirão nos copos, um colega do “trabalho de férias”, um vizinho, um moço muito dado a toda a gente… era, acima de tudo, um puto humilde…

São as primeiras palavras que me lembro de escrever quando me perguntaram quem eras. E, na minha memória, rapidamente se acende a imagem das tuas calças de ganga, do teu sorriso que ocupava muito da tua cara magra cravejada de borbulhas e a mini na mão que acompanhava sempre uma generosa oferta em tom de obrigação… “o que é que queres beber?”

Como muitos, também eu ainda não acredito que tudo aconteceu, e que naquele caminho aqui tão perto encontraste o teu fim tão cedo… demasiado cedo. Demasiado cedo para que eu possa aceitar sem ira, sem raiva, sem mágoa ou sentido de injustiça que alguém mais egoísta que eu te quisesse levar para junto de Si. Porque o teu lugar é aqui. Fazes cá falta. Que alguém nos quis privar desse sorriso que tu rasgavas ao passar de qualquer conhecido… e tinhas sempre uma palavra, um aceno, uma piadola que alegrava o instante e quebrava confortavelmente qualquer barreira de idade, condição, crenças ou clubícies. Foi demasiado cedo para que não sinta o vazio de tudo o que ficou por fazer ou dizer.

Tu viveste! Com a intensidade de quem agarra cada dia como se fosse o último, tu esgrimiste a tua batalha e hasteaste a bandeira da simplicidade em todos os lugares por onde passaste e a todos com quem te cruzaste. Mas muito havia ainda para viveres. Naquele lugar, ficaram muitos dias para agarrar, muitas noites para atravessar, muitas curvas para rasgar… naquele lugar fica muito dos teus a quem nunca negaste e que soubeste estimar. Fica certamente um bocadinho de todos quantos te conheceram. Fica um bocadinho grande de mim que partilhei grandes noites de amizade, bebedeira e loucura contigo.

A tua simplicidade e humildade faziam de ti um moço transversal. Despojado livremente de tudo, tu eras só tu e nesse teu estilo despreocupado eras muito. Valias pelo que eras, sabias disso e não te preocupavas com qualquer outra questão. Falavas com todos e para todos sabias sempre o que falar. “ Vais trabalhar? só se és parvo… andaste tanto tempo a estudar para agora trabalhar… eu se tivesse estudado era para agora andar á boa vida!” ...dizias me tu a semana passada entre dois martinis.

Hoje não há mais martini… Hoje não me escondes a mochila no caixote do lixo do edifício novo da C+S. Hoje não há lugar às tuas engenhocas, traquinices e diabruras tão características. Hoje não há mais a dança ao som do “ will survive” em cima da mala do Rover, em frente ao Montagreste. Não há “one more time” no Sem Horas, nem Eristoff Ice no Sete! Hoje não há manipulação aos GNR´s para que não nos levem presos apesar do álcool que a máquina teima em registar. Hoje já não fazemos piões na escola secundária e não conduzes o SEAT até casa.
Hoje não te apito enquanto grelhas a carne para mais um petisco na tua casa.

Hoje a rua está mais vazia, a aldeia mais triste e o dia mais escuro.

De ti ficam bem mais que as boas memórias, e amigo… até um dia destes que ainda te hei de cobrar uma mini por teres saído daqui tão cedo.

http://www.youtube.com/watch?v=nv_NnOh4v-U

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Eu chamei-te sem que me ouvisses e tu estavas lá sem que eu te encontrasse

Afinal ninguém morreu e o sol até nasceu… penso eu hoje de manhã, agora que te perdi de vez.
Os feixes de sol invadem as águas furtadas, despertando e aquecendo os minutos iniciais do dia. “Sou um gajo de rotinas”… como em todas as outras manhãs, peço a companhia da TV que vai alertando a meteorologia, o trânsito e as novas do dia.

Saio apressado, como sempre e penso “ganho uns minutinhos no caminho”. Hoje o caminho é mais sinuoso, e escorrem em lágrimas as memórias da minha “outra vida”. "Se eu pudesse voltar atrás"… se eu pudesse voltar atrás faria tudo outra vez respondo-me prontamente.

Seria impossível descrever todos os apaixonantes momentos que passei a teu lado, a praia (o teu porto de abrigo) a manta aconchegante do sofá, o saboroso morango dos teus lábios, os teus dedos finos, compridos e delicados, a luminosidade estarrecida do teu sorriso, as primeiras férias, os passeios de inverno…

Hoje acutila a dor saber que o nosso fim podia ter sido diferente, podia nem sequer ter havido fim! Volto a pensar: "Eu faria tudo na mesma."

Não, não senti raiva de ti como me disseste um dia. Senti raiva de te ter pedido colo e de não me teres conseguido dar. Senti raiva de perceber que me estavas a deixar ir e que não eras capaz de me apertar. E eu pedi-te tanto. E eu queria tanto. Só queria que me acorrentasses, que me escutasses, que me deixasses chorar, como tantas vezes tu choraste no meu colo. Só queria que a tua vida não fosse o nosso centro. Talvez sinta raiva ou ciúme das imensas leituras, pesquisas, formações e pós-graduações que fizeste no afã de seres das melhores na tua actividade. Hoje és das melhores e eu sei que sim. Sinto orgulho de ti e também sinto ciúme e frustração que não te preocupasses tanto em ser das melhores a conhecer-me e escutar-me.

Habituaste-te – como todos – a esperar de mim a determinação, as decisões, as tomadas de posição, a certeza, a confiança, a atitude… habituaste-te como todos os outros a mostrar má cara sempre que as decisões não eram correctas, mas nunca tiveste coragem de me fazer ver que estava enganado e eu sei que foi com medo de me magoar. Habituaste-te como os outros… mas tu não eras os outros. De ti eu precisava o oposto. Precisava que tomasses decisões, que me levasses nas tuas asas. Que me mostrasses os erros, que tomasses posições. Não! Nem “tudo o que tu fizeres para mim está bem”, como me insististe em dizer tantas vezes que te pedi opinião. Precisava que fosses confiança e atitude para me guiares na estrada quando os caminhos eram dúbios, o sol encadeava e o nevoeiro ocultava. Pedi-te tanto!

Eu chamei-te sem que me ouvisses e tu estavas aí sem que eu te encontrasse!

Mas isso eu precisava ontem. E esperei por um sinal que contrariasse o teu encolher de ombros à pergunta: “ Tens a noção que isto é mesmo o ponto final?”

Pelo menos até as 23h59 esperei, porque hoje… hoje ninguém morreu e o sol até nasceu…

“E agora?” “Ela é uma miúda espectacular e encontrará alguém com quem será feliz e eu também”.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O desapego

Voltas e voltas que ainda me deixo (e quero) deambular no turbilhão de pensamentos que me enche cada instante.

É domingo de Páscoa e concerteza que tenho outros programas bem mais interessantes do que passar uma tarde na sala de visitas do hospital! Talvez nem tenha, sei lá eu…

Espero pelas 14h00 que me permitem a entrada. Hoje é “à vontade” vai respondendo o porteiro ao pedido de senhas. Subo até ao quarto… A minha avó… tão diferente daquele tempo em que gritava na esquina da Junta de Freguesia e a plenos pulmões “ ó Joãaaaaaaoooooo, o almoço tá na mesa”. Conhecia tão bem aquele grito… E eu nem me permitia fazer como alguns deles que respondiam aos chamados dos progenitores com um “ já vou… mais cinco minutos”. Eu não! Saía apresado do ringue ainda a esfregar as calças esbranquiçadas do saibre que me valiam sempre uma repreensão “ai João quando a tua mãe vir essas calças”. Mas a escova preta sempre tranquila em cima do móvel “na casa de fora” esperava o seu momento de actividade e à medida que baloiçava agressivamente sobre os meus joelhos resolvia alguns problemas e acabava sempre por atenuar o pó e o ralhete da minha mãe.

Manténs esses mesmos olhos azuis tão intensos quanto a tua bondade que uma vez ainda me valeram um “ ai João se tu tivesses os olhos como os da tua avó eras um borracho”… Era mas não sou, não é? Na altura isto ainda me marcou. Mas hoje que se dane a opinião das raparigas!

A tua cara está desfigurada pelo trabalho, pelas ralações, pelas percas, pelas lutas que quiseste travar sempre para proteger os teus. Pelos 87 anos a viver para os outros. Hoje não me conheces, nem tão pouco o meu nome. Apresso-me a dizer-te quem sou. “ O melhor de todos os teus netos Avó, sou o João”. Não te convences que seja o melhor, mas respondes de pronto: “ os meus netos, gosto tanto dos meus netos “…. e pronto, bastava isto para que qualquer outro programa de domingo à tarde se tornasse banal comparado com a visita ao teu quarto de hospital! Mas mesmo assim tu continuas a querer justificar a minha decisão de te visitar: “Gosto tanto que estejam aqui… os meus netos” Essa frase ecoa como a sirene dos bombeiros que os faz correr das camaratas e a mim agita-me todo. A custo, contenho as lágrimas de assentimento perante tal desabafo. É bem verdade, o quanto tu gostavas dos teus netos. Talvez ainda gostes, mas já nem te lembras. Ou talvez te lembres e nós não te saibamos escutar.

Cada qual tem a sua forma de lidar com a doença, com as percas… serei eu obtuso e antiquado, mas deixo escapar um revolto “quanto desapego!” É domingo de Páscoa e as visitas são menos do que eram ontem. Vislumbra-se do corredor algumas portas entreabertas que deixam aparecer as camas rodeadas de meia dúzia de familiares e amigos, mas isso parece-me pouco.

Onde estão os outros? Tu viveste para os teus filhos e para os teus netos, como provavelmente muitos dos teus colegas de hospital… onde estão eles hoje? O desapego… cresce no meu pensamento como um monstro de tentáculos assustadores. O dinheiro está cada vez mais caro e as pessoas valem pouco, cada vez menos. Tal como as relações, tal como a Amizade e o Amor. Aprendi à minha custa isso, mas porra, não me consigo conformar.! Isso perturba-me, enoja-me até! “Beijoca, Avó, até amanhã”. “ Até amanhã, filho, e obrigado por teres vindo”.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Simplesmente Brilhante

A vida ensinou me...
A dizer adeus às pessoas que amo,
Sem tira-las do meu coração;
Sorrir às pessoas que não gostam de mim,
Para mostrar-lhes que sou diferente do que elas pensam;
Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade,
Para que eu possa acreditar que tudo vai mudar;
Calar-me para ouvir;
Aprender com meus erros.
Afinal eu posso ser sempre melhor.
A lutar contra as injustiças;
Sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo,
A ser forte quando os que amo estão com problemas;
Ser carinhoso com todos que precisam do meu carinho;
Ouvir a todos que só precisam desabafar;
Amar aos que me magoam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafectos;
Perdoar incondicionalmente, Pois já precisei desse perdão;
Amar incondicionalmente, Pois também preciso desse amor;
A alegrar a quem precisa;
A pedir perdão;
A sonhar acordado;
A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário);
A aproveitar cada instante de felicidade;
A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar;
Ensinou-me a ter olhos para "ver e ouvir estrelas", embora nem sempre consiga entendê-las;
A ver o encanto do pôr-do-sol;
A sentir a dor do adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser;
A abrir minhas janelas para o amor;
A não temer o futuro;
Ensinou-me e esta ensinando-me a aproveitar o presente, como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesmo tenho que lapidar, dando-lhe forma da maneira que eu escolher


Charles Chaplin

quarta-feira, 18 de março de 2009

Estilhaços do dia em que perdendo me encontrei



"Estou de volta pro meu aconchego, Trazendo na mala bastante saudade, Querendo Um sorriso sincero, um abraço, Para aliviar meu cansaço, E toda essa minha vontade.... (Elba Ramalho)"



A noite promete ser perturbante. O “Open Space” afoga-se de entediante silêncio que nem amorfos professores nem as frases feitas cravejadas nos biombos parecem conseguir quebrar.

Assusta-me o silêncio que retalho quando acedo ao youtube como quem quer reviver doce momento no repeat de uma música que teve sentido. Partilho esfarrapados desabafos (desadequados e insensatos) e esboço a coreografia de uma dança no rodopio de dois ou três pulos.

Esvoaçam pensamentos que aguçam o guisado de emoções que agora fervilham na memória de um outro tempo.

Os telemóveis encurtam sem dúvida as distâncias e são óptimas prescrições para as maleitas de solidão, mas são como antibióticos que acabam sempre por ofender outros elementos do corpo que ao fim ao cabo está condenado à moribundice … Talvez seja preferível os tragos de Whisky barato às mensagens escritas…

Deixo a música a meio…. “Volto já” … esta música descobre-me lágrimas recônditas que julgava já ter chorado mas que parecem renovar-se em cada manhã que teimo em sair da cama… “Quanto mais choras, menos mijas” sempre me disse a minha mãe… e é o que ainda me vale neste fluir de líquidos que se reciclam no meu corpo desgrenhado pelas maleitas da solidão, das mensagens escritas e dos tragos de Whisky barato. Olha se eu mijasse tanto quanto choro….

Saio na sombra de uns feixes de sol que a semana passada seriam motivo para dez sms. Viro a esquina, o Amoroso habituou-se a conhecer o desalento do meu caminhar arrastado, que lhe ajuda a ganhar alguns dias, e permite-se não perder muito tempo na sua arte de vender:

- “É uma “preta”, Sr. Professor?”

- “ Dê-me antes duas e das grandes, que hoje quero beber para esquecer”…

- “ Coma um Salgadinho Sr. Professor” , instiga o Amoroso, sem que eu perceba se quer vender, se está preocupado com a minha aparência débil, ou se simplesmente quer meter conversa.

Será que o Amoroso se sente só? Não me parece. Nem sequer deixo que se aproxime muito de mim. Habituei-me a não confiar nas pessoas. Como diz o Vítor: quanto mais conheço as pessoas mais gosto dos animaizinhos. Concluo que o Amoroso quer vender, mas não lhe faço a vontade.

- “Até logo”

- “ Até logo Sr. Professor” – insiste o Amoroso que ainda não percebeu que não sou Professor apesar de já lhe ter dito uma série de vezes.

Perco o bom senso e a razão - porque a dignidade já a perdi há muito e insisto num sms provocatório que busca a volúpia de um colo que aconchegue. Do outro lado tu respondes - que alívio. Espero ansiosamente a hora de saída… faltam alguns segundos… Pouso rispidamente o indicador no relógio de ponto que me autoriza a saída. Ainda vou a tempo de um "Até amanhã" fugaz ao Sr. Vítor (Gosto deste homem) que returque de imediato

" - Até amanhã, João... Já tá mais que na hora" - dispara como quem tenta justificar a minha saída apressada no limiar da hora.

O percurso até ao local combinado é feito meio na estrada meio a voar, que os pneus estão carecas, podem esbarrar ou rebentar e a minha conta bancária não me permite ter acidentes agora.

Esperas-me ao telefone. Inquieta esse telefonema, mas permito-me calar o ciúme! Fazes-me um gesto para que entre.

Peço-te que me agasalhes, que me enchas a alma desse sorriso imenso que envolve um misto de doçura, de meninez inocente e de boniteza sensual. Entrego-me sem defesas… sorrio e embarco no teu abraço… esse abraço!


http://www.youtube.com/watch?v=hR8aZhKMsic