quarta-feira, 20 de maio de 2009

uma mensagem...algumas palavras

Atenua o vazio e a saudade o toque de mensagem no telemóvel. Ansiosamente procuro descobrir se és tu. São centésimos de segundos que separam o “mostrar” da abertura da mensagem e descodificação do remetente. Tremem os dedos e o coração parece acelerar ligeiramente… sim és tu! Os olhos resplandecem de alegria e brilham intensamente deixando transparecer a idealização e imaginação do conteúdo… perguntarás como estou, convidarás me para beber um café - que transporta em si o desejo de me veres, de estares comigo e em ambiente de cumplicidade única, mágica e saborosa, mostrares que queres passar comigo o resto da vida - deixarás meia dúzia de letras, abreviaturas ou símbolos meigos que me aconchegarão como uma manta quente numa tarde fria de domingo junto à lareira, e terminarás com um abraço ou beijinho doce que me apertará os ombros, e de olhos fechados me fará sentir um arrepio de protecção e acolhimento… e no fim quando o telemóvel voltar a bloquear o teclado eu saberei que caibo todo no teu leito e que o meu lugar é como sempre absorvido pelo calor emanado dos teus braços morenos.

Abriu-se a mensagem… o coração retoma a velocidade normal e subitamente volta a bater mais depressa. A recente magia dos centésimos de segundo anteriores, ilustrados em pensamento na idealização da tua mensagem desvanece e cai como uma moeda numa sarjeta arrastada pelas águas incessantes da chuva que parece desabar sobre o momento. Não é possível… é insonsa, é poucochinho para tudo o que se tem lutado, vivido, discutido, pedido… quebra o encantamento, a magia, a beleza dos centésimos de segundo que separam o “mostrar” do ver e remetem para o mais banal e reles que há na ilusão, imaginação e idealização de qualquer instante.

Voltou a bloquear-se o teclado e, ao contrário do previsto, não resta o sentimento de pertença, mas ideia de ausência, de abandono, de solidão, de vazio…

sexta-feira, 15 de maio de 2009

"Cama de Rosas"

“Quero- te deitar numa cama de rosas”… a música que voluntariamente escolho para deliciar o fim de tarde enfadonho…

E sento-me aqui como o Bon Jovi, gasto e desolado pela intensidade com que sempre me obriguei a esmifrar cada dia, pelo erguer dos precipícios em que ousei cair só para descobrir os arrepios na espinha e suores nas mãos, pelo emergir dos mergulhos profundos só para ensopar as vibrações serenas do mar no corpo marcado pela inércia, por trepar mais alto só para aspirar o vento forte que batia no rosto e despenteava os cabelos (noutro tempo bem mais longos e fortes).

Lutas ganhas, lutas perdidas, a alegria, a tristeza, os cheiros, os olhares, sorrisos, choros, gritos, gemidos de dor, raiva, um abraço, pulos, danças, sempre mais… mais forte, mais alto, mais longe, mais rápido, mais álcool, mais tarde, mais louco…

“Há sempre dois lados de uma moeda… não se pode querer sentir se não se correr o risco”, dizia-me há dias uma pessoa especial. Eu senti emoções bem fortes, mágicas e picantes.

Hoje o risco reveste-se de aspecto desgrenhado, de rugas, cabelo enfraquecido, dores nas costas e até na alma. A voz é mais pausada, o raciocínio intelectual e a agilidade física lentificaram-se… Hoje só me quero deitar contigo numa cama de rosas e cheirar a tranquilidade doce do descanso aconchegante dos teus braços. Hoje apenas quero recordar o picante do limite da vida sempre no equilíbrio e desequilíbrio da corda bamba e sorrir com as gargalhadas que se deram.

Baixo os braços resignado às marcas que enfadonham a postura, a atitude, a presença e cegam a jovialidade, a agressividade e a loucura de outro tempo. Sei de cor decretos-lei e referenciais. Conheço núcleos geradores, domínios de referência e critérios de evidência… Haverá algo mais triste e escuro?

Chego, assim, a casa e abraço-te porque te Amo. Sinto o aroma de uma canção que embala, degusto um beijo terno e enrosco-me nos sonhos que até são reais.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Demasiado Cedo

Um companheirão nos copos, um colega do “trabalho de férias”, um vizinho, um moço muito dado a toda a gente… era, acima de tudo, um puto humilde…

São as primeiras palavras que me lembro de escrever quando me perguntaram quem eras. E, na minha memória, rapidamente se acende a imagem das tuas calças de ganga, do teu sorriso que ocupava muito da tua cara magra cravejada de borbulhas e a mini na mão que acompanhava sempre uma generosa oferta em tom de obrigação… “o que é que queres beber?”

Como muitos, também eu ainda não acredito que tudo aconteceu, e que naquele caminho aqui tão perto encontraste o teu fim tão cedo… demasiado cedo. Demasiado cedo para que eu possa aceitar sem ira, sem raiva, sem mágoa ou sentido de injustiça que alguém mais egoísta que eu te quisesse levar para junto de Si. Porque o teu lugar é aqui. Fazes cá falta. Que alguém nos quis privar desse sorriso que tu rasgavas ao passar de qualquer conhecido… e tinhas sempre uma palavra, um aceno, uma piadola que alegrava o instante e quebrava confortavelmente qualquer barreira de idade, condição, crenças ou clubícies. Foi demasiado cedo para que não sinta o vazio de tudo o que ficou por fazer ou dizer.

Tu viveste! Com a intensidade de quem agarra cada dia como se fosse o último, tu esgrimiste a tua batalha e hasteaste a bandeira da simplicidade em todos os lugares por onde passaste e a todos com quem te cruzaste. Mas muito havia ainda para viveres. Naquele lugar, ficaram muitos dias para agarrar, muitas noites para atravessar, muitas curvas para rasgar… naquele lugar fica muito dos teus a quem nunca negaste e que soubeste estimar. Fica certamente um bocadinho de todos quantos te conheceram. Fica um bocadinho grande de mim que partilhei grandes noites de amizade, bebedeira e loucura contigo.

A tua simplicidade e humildade faziam de ti um moço transversal. Despojado livremente de tudo, tu eras só tu e nesse teu estilo despreocupado eras muito. Valias pelo que eras, sabias disso e não te preocupavas com qualquer outra questão. Falavas com todos e para todos sabias sempre o que falar. “ Vais trabalhar? só se és parvo… andaste tanto tempo a estudar para agora trabalhar… eu se tivesse estudado era para agora andar á boa vida!” ...dizias me tu a semana passada entre dois martinis.

Hoje não há mais martini… Hoje não me escondes a mochila no caixote do lixo do edifício novo da C+S. Hoje não há lugar às tuas engenhocas, traquinices e diabruras tão características. Hoje não há mais a dança ao som do “ will survive” em cima da mala do Rover, em frente ao Montagreste. Não há “one more time” no Sem Horas, nem Eristoff Ice no Sete! Hoje não há manipulação aos GNR´s para que não nos levem presos apesar do álcool que a máquina teima em registar. Hoje já não fazemos piões na escola secundária e não conduzes o SEAT até casa.
Hoje não te apito enquanto grelhas a carne para mais um petisco na tua casa.

Hoje a rua está mais vazia, a aldeia mais triste e o dia mais escuro.

De ti ficam bem mais que as boas memórias, e amigo… até um dia destes que ainda te hei de cobrar uma mini por teres saído daqui tão cedo.

http://www.youtube.com/watch?v=nv_NnOh4v-U