terça-feira, 5 de maio de 2009

Demasiado Cedo

Um companheirão nos copos, um colega do “trabalho de férias”, um vizinho, um moço muito dado a toda a gente… era, acima de tudo, um puto humilde…

São as primeiras palavras que me lembro de escrever quando me perguntaram quem eras. E, na minha memória, rapidamente se acende a imagem das tuas calças de ganga, do teu sorriso que ocupava muito da tua cara magra cravejada de borbulhas e a mini na mão que acompanhava sempre uma generosa oferta em tom de obrigação… “o que é que queres beber?”

Como muitos, também eu ainda não acredito que tudo aconteceu, e que naquele caminho aqui tão perto encontraste o teu fim tão cedo… demasiado cedo. Demasiado cedo para que eu possa aceitar sem ira, sem raiva, sem mágoa ou sentido de injustiça que alguém mais egoísta que eu te quisesse levar para junto de Si. Porque o teu lugar é aqui. Fazes cá falta. Que alguém nos quis privar desse sorriso que tu rasgavas ao passar de qualquer conhecido… e tinhas sempre uma palavra, um aceno, uma piadola que alegrava o instante e quebrava confortavelmente qualquer barreira de idade, condição, crenças ou clubícies. Foi demasiado cedo para que não sinta o vazio de tudo o que ficou por fazer ou dizer.

Tu viveste! Com a intensidade de quem agarra cada dia como se fosse o último, tu esgrimiste a tua batalha e hasteaste a bandeira da simplicidade em todos os lugares por onde passaste e a todos com quem te cruzaste. Mas muito havia ainda para viveres. Naquele lugar, ficaram muitos dias para agarrar, muitas noites para atravessar, muitas curvas para rasgar… naquele lugar fica muito dos teus a quem nunca negaste e que soubeste estimar. Fica certamente um bocadinho de todos quantos te conheceram. Fica um bocadinho grande de mim que partilhei grandes noites de amizade, bebedeira e loucura contigo.

A tua simplicidade e humildade faziam de ti um moço transversal. Despojado livremente de tudo, tu eras só tu e nesse teu estilo despreocupado eras muito. Valias pelo que eras, sabias disso e não te preocupavas com qualquer outra questão. Falavas com todos e para todos sabias sempre o que falar. “ Vais trabalhar? só se és parvo… andaste tanto tempo a estudar para agora trabalhar… eu se tivesse estudado era para agora andar á boa vida!” ...dizias me tu a semana passada entre dois martinis.

Hoje não há mais martini… Hoje não me escondes a mochila no caixote do lixo do edifício novo da C+S. Hoje não há lugar às tuas engenhocas, traquinices e diabruras tão características. Hoje não há mais a dança ao som do “ will survive” em cima da mala do Rover, em frente ao Montagreste. Não há “one more time” no Sem Horas, nem Eristoff Ice no Sete! Hoje não há manipulação aos GNR´s para que não nos levem presos apesar do álcool que a máquina teima em registar. Hoje já não fazemos piões na escola secundária e não conduzes o SEAT até casa.
Hoje não te apito enquanto grelhas a carne para mais um petisco na tua casa.

Hoje a rua está mais vazia, a aldeia mais triste e o dia mais escuro.

De ti ficam bem mais que as boas memórias, e amigo… até um dia destes que ainda te hei de cobrar uma mini por teres saído daqui tão cedo.

http://www.youtube.com/watch?v=nv_NnOh4v-U

Sem comentários:

Enviar um comentário