"Estou de volta pro meu aconchego, Trazendo na mala bastante saudade, Querendo Um sorriso sincero, um abraço, Para aliviar meu cansaço, E toda essa minha vontade.... (Elba Ramalho)"
A noite promete ser perturbante. O “Open Space” afoga-se de entediante silêncio que nem amorfos professores nem as frases feitas cravejadas nos biombos parecem conseguir quebrar.
Assusta-me o silêncio que retalho quando acedo ao youtube como quem quer reviver doce momento no repeat de uma música que teve sentido. Partilho esfarrapados desabafos (desadequados e insensatos) e esboço a coreografia de uma dança no rodopio de dois ou três pulos.
Esvoaçam pensamentos que aguçam o guisado de emoções que agora fervilham na memória de um outro tempo.
Os telemóveis encurtam sem dúvida as distâncias e são óptimas prescrições para as maleitas de solidão, mas são como antibióticos que acabam sempre por ofender outros elementos do corpo que ao fim ao cabo está condenado à moribundice … Talvez seja preferível os tragos de Whisky barato às mensagens escritas…
Deixo a música a meio…. “Volto já” … esta música descobre-me lágrimas recônditas que julgava já ter chorado mas que parecem renovar-se em cada manhã que teimo em sair da cama… “Quanto mais choras, menos mijas” sempre me disse a minha mãe… e é o que ainda me vale neste fluir de líquidos que se reciclam no meu corpo desgrenhado pelas maleitas da solidão, das mensagens escritas e dos tragos de Whisky barato. Olha se eu mijasse tanto quanto choro….
Saio na sombra de uns feixes de sol que a semana passada seriam motivo para dez sms. Viro a esquina, o Amoroso habituou-se a conhecer o desalento do meu caminhar arrastado, que lhe ajuda a ganhar alguns dias, e permite-se não perder muito tempo na sua arte de vender:
- “É uma “preta”, Sr. Professor?”
- “ Dê-me antes duas e das grandes, que hoje quero beber para esquecer”…
- “ Coma um Salgadinho Sr. Professor” , instiga o Amoroso, sem que eu perceba se quer vender, se está preocupado com a minha aparência débil, ou se simplesmente quer meter conversa.
Será que o Amoroso se sente só? Não me parece. Nem sequer deixo que se aproxime muito de mim. Habituei-me a não confiar nas pessoas. Como diz o Vítor: quanto mais conheço as pessoas mais gosto dos animaizinhos. Concluo que o Amoroso quer vender, mas não lhe faço a vontade.
- “Até logo”
- “ Até logo Sr. Professor” – insiste o Amoroso que ainda não percebeu que não sou Professor apesar de já lhe ter dito uma série de vezes.
Perco o bom senso e a razão - porque a dignidade já a perdi há muito e insisto num sms provocatório que busca a volúpia de um colo que aconchegue. Do outro lado tu respondes - que alívio. Espero ansiosamente a hora de saída… faltam alguns segundos… Pouso rispidamente o indicador no relógio de ponto que me autoriza a saída. Ainda vou a tempo de um "Até amanhã" fugaz ao Sr. Vítor (Gosto deste homem) que returque de imediato
" - Até amanhã, João... Já tá mais que na hora" - dispara como quem tenta justificar a minha saída apressada no limiar da hora.
O percurso até ao local combinado é feito meio na estrada meio a voar, que os pneus estão carecas, podem esbarrar ou rebentar e a minha conta bancária não me permite ter acidentes agora.
Esperas-me ao telefone. Inquieta esse telefonema, mas permito-me calar o ciúme! Fazes-me um gesto para que entre.
Peço-te que me agasalhes, que me enchas a alma desse sorriso imenso que envolve um misto de doçura, de meninez inocente e de boniteza sensual. Entrego-me sem defesas… sorrio e embarco no teu abraço… esse abraço!
http://www.youtube.com/watch?v=hR8aZhKMsic
Parabéns João, não te conhecia esta faceta, gosto mto da tua escrita, simples sem cair em simplismos, mas com pequenos detalhes que adoçam o embalar da palavras...besitos
ResponderEliminarestrela da tarde....tudo isto é conjugado com uma enorme beleza...
ResponderEliminarLuís Galego
http://infinito-pessoal.blogspot.com
Com que então "O "Open Space" afoga-se de entediante silêncio" e e então o colega vai refugiar-se no Amoroso, tentando afogar as suas mágoas e perturbações (que nada têm a ver com o oficio), consumindo "pretas". Fico preocupada!!
ResponderEliminarAinda por cima, pareçe-me ser um hábito frequente. Sim, sim... Porque a frase do Amoroso, "É uma "preta", Sr. Professor?", denuncia uma certa intimidade e frequência de "pretas".
O que me deixa mais preocupada, caro colega!
Quanto ao "salgadinho", pareçe-me não ser apenas querer vender ou pôr conversa pela sua "aparência débil" (que não é nada visível), mas com certeza para não o ter de vender no dia seguinte, fazendo-o passar por um salgadinho do dia. Eh, eh, eh...
Outra coisa que me preocupou ao ler este texto, foi o colega andar a contar os segundos para marcar o ponto de saída. O colega não anda bem!!
O Sô Vitor já está habituado a essa contagem decrescente e o seu ar simpático na despedida, releva uma satisfação por seres menos um a atrasar-lhe a saída.
Sr. Técnico de Encaminhamento, começo a temer pelo futuro dos encaminhamentos desta Escola, depois dessa idas ao Amoroso...
Lol...
Colega Joãozinho, gostei muito deste e dos outros textos, mas este tinha mesmo que comentar!! Tens muito jeito para escrita, continua assim.
Deu-me muito gozo ler e comentar.
Beijinhos,
Paula Santos.